HOMILIA DURANTE A CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA
XII ROMARIA DA TERRA E ÁGUA
Campo Maior, 30-31/07/2011.
SALVAR A TERRA E A ÁGUA É SALVAR A VIDA
“Eu vim para que todos tenham vida”
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.Estamos reunidos nesta Eucaristia para encerrar a 12ª Romaria da Terra e da Água. Depois de refletir em seis oficinas os problemas que estão nos afligindo; depois de perceber qual é o plano de Deus sobre a natureza através do momento de espiritualidade diante da presença de Jesus na Hóstia Consagrada; queremos neste momento celebrar a memoria de Cristo que veio a este mundo para TUDO RENOVAR.
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A nossa oração desta 12ª Romaria da Terra e da Água repete várias vezes as palavras: “Senhor, eu li nos Livros Sagrados...” É bom lembrar que a Bíblia contém a Palavra de Deus e sendo assim é para nós o mais importante fundamento da fé. Ela é que nos diz que: Deus é o Criador de tudo o que existe. A Palavra de Deus é poderosa; Deus falou e tudo se fez assim como Ele quis: céus, a terra a água, sol e lua, estrelas, plantas e animais. A Bíblia conta também que terminada toda criação Deus formou o ser humano, homem e mulher os criou, e entregou a toda criação ao domínio do homem para que com responsabilidade dominassem a terra. É verdade, a criação é um grande presente que Deus nos deu! Como Deus é bom e continua bondosa conosco: a terra continua fértil, a água continua potável, a semente continua se multiplicando.
Mas, os livros sagrados também contam que o ser humano enganado pelo tentador desobedeceu a ordem de Deus; pela desobediência dos primeiros pais, o pecado entrou no mundo. O pecado entrou e se instalou a desordem no meio da criação. A ganancia, o egoísmo, a falta de respeito com a natureza e a exploração, são as formas mais perversas da presença do pecado no mundo.
Acumula-se o alimento, motivos: “reserva estratégica”. Acumula-se dinheiro: “o superávit é muito necessário”. Desmata-se, mas não porque é indispensável, é para produzir mais em vista da exportação. Cobra-se altos impostos, mas eles não são transformados para o bem comum. São poucos que tem muito e muitos que tem pouco.
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Neste contexto é bom refletir um pouco sobre o progresso e sobre o desenvolvimento. O que pensamos quando ouvimos a palavra progresso? O que se apresenta a nós como essencial do progresso? O nosso país se orgulha que está atingindo o lugar de destaque sendo 5ª potência mundial nesta questão. Mas por quê? Porque produz mais, porque, exporta mais, porque mercado interno está muito aquecido, porque vende mais veículos, mais celulares, mais televisões, porque já temos sinal digital, etc. Mas, este progresso precisa uma matéria prima! Pra exportar grãos o agronegócio precisa desmatar, precisa agrotóxicos. Para fábrica produzir precisa energia, então se faz usinas atómicas. Pra produzir mais barato os dejetos são jogados nos rios. Pra construir mais barato não se aplica recursos para tratar a água e menos ainda tratar o esgoto! No Brasil menos de 44% da população tem acesso à rede de esgoto do qual menos de 30% é tratado. (Veja, 30/03/2011).
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O progresso também se identifica com o “descartável”. Responda, quanto tempo dura sapato que você compra e usa? Quanto tempo dura camisa ou meia? Eu me lembro de tempo que o sapato se levava para o sapateiro para colocar uma sola nova. Quem hoje faz isso? Os sapateiros desapareceram! Na escola, durante a aula de artesanato, eu aprendia costurar o buraco que se formou na meio. Quem hoje faz isso? Aprendia fechar a costura na camisa ou calça se por acaso se abriu. Quem hoje faz isso? Hoje temos a cultura do descartável que se chama “progresso”!
Vamos ainda alhar um pouco sobre a questão de desenvolvimento. Esta palavra parece não estar em sintonia com as palavras, educação e saúde. Por quê? Porque desenvolvimento, do modo como se apresenta hoje quer os resultados imediatos. Investir na educação significa planejar de longo prazo. Investir na saúde significa gastar sem ter o retorno. Mas a mentalidade desenvolvista exige resultados imediatos.
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Vendo isso, embora de modo muito superficial, percebemos que estamos vivento um impasse tremendo.
O que, então precisamos mudar? Parece que o necessário é mudar a mentalidade. Não adianta gritar: faça isso ou faça aquilo! Se a mentalidade do progresso e do desenvolvimento vai continuar a mesma.
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Procurando alguma resposta para esta questão, vamos voltar para a Palavra de Deus. Será que ela nos aponta alguma luz manifestando para qual direção devemos ir? O Profeta Isaías no bonito cântico sobre a vinha apresenta algumas indicações muito iluminadoras. O dono da vinha, Deus:
- esperava o direito, mas produziram transgressões;
- esperava a justiça, mas apareceram os gritos de desespero;
O Criador doando aos seres humanos a terra espera os frutos, quais? Segundo o Isaías: o DIREITO e a JUSTIÇA. Ele nos deu a terra. A deu para todos, não só para alguns. A terra deve servir para bem de todos. Todos têm direito a terra e a tudo o que ela pode nos dar. A justiça é também para todos, por isso a distribuição dos bens da terra deve ter a única medida, a justiça.
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Lemos também nos Livros Sagrados que Deus enviou seu Filho Unigênito para restaurar todas as coisas conforme o projeto inicial. Pra nós cristãos ela, a Palavra de Deus, é a referência de tudo o que nos atinge. Jesus nos diz: “Eu sou a verdadeira videira e meu Pai é o agricultor”. E continua: “Permanecei em mim, como ramo permanece em videira”. Jesus fala: olhai os lírios do campo, aprendei da erva, observai os pássaros do céu, imitai a atitude da água.
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Que esta Romaria ajude a todos nós, romeiros, a cultivar a nova mentalidade. Mudança de mentalidade, na Igreja, chamamos também de conversão. Somos cristãos, o novo Povo de Deus, Ele espera de nós os frutos de justiça e de direito, não podemos ser responsáveis pelo desrespeito que se instalou no mundo contra a criação de Deus.
Senhor, nós Te pedimos, pela morte e ressurreição de Jesus, pela sua vida e exemplo, pelo envio do Espírito Santo, toque os corações endurecidos, para que te reconhecem como Senhor e Criador, e Te respeitem, cumprindo a Sua santa vontade. AMÉM.
DOM EDUARDO ZIELSKI
Bispo Diocesano
MISSA DO 40º ANIVERSÁRIO
DO SACERDÓCIO
Campo Maior, 21 de maio de 2012.
“SER PÃO PARA QUEM TEM FOME”
Algumas citações evangélicas:
“Eu sou a luz do mundo” (Jo 8,12);
“Eu sou a porta” (Jo 10,9);
“Eu sou o bom pastor” (Jo 10,11);
“Eu sou a ressurreição” (Jo 11,25);
“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,5);
“Eu sou a verdadeira videira” (Jo 15,1);
“Eu sou o
pão da vida”
(Jo 6,34);
Durante a nossa preparação seminarística ouvimos
muito que o padre deve se assemelhar ao BOM
PASTOR, que o padre deve ser a LUZ
para as pessoas, que o padre precisa indicar o CAMINHO por onde os cristãos devem ir para se encontrar com Jesus e
alcançar a vida eterna. Mas desde o início da minha vida sacerdotal pensei
imitar Jesus percebendo Ele como PÃO.
Claro nenhum homem poderá ser como Jesus neste sentido, pois Ele se tornou o PÃO eucarístico, mas imitá-lo no
sentido mais amplo do próprio significado do pão. Por isso escolhi como lema da
minha vida sacerdotal: “SER PÃO PARA
QUEM TEM FOME”.
Como eu entendo esta imitação e como tento
realizá-la?
Primeiro, o pão é algo que
simboliza tudo o que é insubstituível para a vida. Deste modo vejo a fé. Sem a
fé a vida, principalmente a vida nova em Deus, a vida verdadeiramente feliz, é
impossível! Durante estes 40 anos tentei, com todas as forças, aproximar aos
fieis a mim confiados, este pão da fé em Deus manifestada por Jesus.
Em segundo
lugar
vejo que o pão sempre é pão. Ele não muda conforme paladar. Mesmo acontece com
a fé. Ela, como pão, é a mesma para todos, tanto pobres como ricos. Não pode
ser manipulada. Apresenta-se para ser recebida e não muda conforme as
conveniências. Durante meus 40 anos de serviço sacerdotal sempre tentei agir
deste modo. Por causa disso foi chamado até “a metralhadora católica”.
Em terceiro
lugar o
pão recebido precisa ser assimilado. No interior do nosso corpo existem as
enzimas que fazem esta assimilação. O mesmo acontece com a fé. A fé recebida
precisa ser assimilada. Não basta pregar, claro isso é importante e o padre não
pode se abster deste serviço, mas, se da parte dos fieis não há receptividade,
a fé fica sem ser assimilada. Durante estes 40 anos do sacerdócio fazia o que
foi possível para não somente pregar, mas também cuidar para que a fé seja
assimilada, através dos retiros, principalmente para os jovens, cursos,
novenas, subsídios.
Às vezes
acontece
que um organismo doente rejeita o pão recebido, vomita-o. Na questão de fé isso
acontece com a pessoa obstinada no pecado. Alguém com coração de padra, fechado
em assimilar a mensagem da fé. Escuta, até gosta, mas assim como pão jogado
fora, também tudo que ouviu não faz nenhuma reação na vida desta pessoa. Na
vida do padre esta situação causa grande tristeza, pois neste caso somente a
oração, no esconderijo do seu quarto, é o único modo de continuar a própria
missão.
O pão tem também características
semelhantes da água: ele se doa absolutamente; ele não retém nada para si; ele
é totalmente para o outro. Nisto vejo como grande exemplo para o padre. Sou
para os outros; tudo o que é meu é dos outros; não somente a renuncia abraçando
o celibato, mas também tudo o que possuo: dinheiro, descanso, tempo livre, etc.
Ser pão significa não reter nada para si.
O pão ainda
existe
para satisfazer as necessidades fundamentais do ser humano, a fome. Ele não é
para saciar os caprichos da pessoa, mas é para saciar a fome. O padre também: o
seu ministério é para as necessidades religiosas dos fieis e não para atender
os caprichos. Por isso: “SER PÃO PARA
QUEM TEM FOME”. O padre-pão é para satisfazer a fome de Deus nas pessoas.
Comparando com a fome do corpo percebemos que a fome do pão que alimenta a vida
biológica aparece logo quando não o alimentamos. Mas a fome de Deus, muitas
vezes, sufocamos dentro de nós por muitos anos. “SER PÃO PARA QUEM TEM FOME” significará despertar nas pessoas esta
fome de Deus. Isto é basicamente ser missionário, ir ao encontro das pessoas
para que percebam que sem a fé não podem viver.
Assim na minha vida sacerdotal surgiu a vocação
missionária. Sair do lugar onde o número de padres é muito bom e ir para o
Brasil onde há falta de padres para saciar a fome de Deus. Reconheço que neste
meu lema sacerdotal está embutida a vocação missionária. “SER PÃO PARA QUEM TEM FOME”.
Aconteceu também de repente a outra vocação,
episcopal. E agora, será que o meu lema sacerdotal não tem mais validade? Mais
ainda, quando veio a inspiração para colocar no brasão episcopal o lema: “SOLA MISERICORDIA”. Será que não devo
ser mais o pão para quem tem fome? Reconheço que uma coisa está complementando
a outra. Pois por causa da misericórdia que Jesus se fez pão e se deixa devorar
para que as pessoas tenham vida.
(Poesia)
Cuidar para não ser uma excelência reverendíssima
Atrás de quem estão carregando a mala
A quem estão enviando para a Roma,
Na televisão estão manipulando como de um boneco;
A quem penduram no meio das estrelas da novela.
Mas ser um pão
partilhado,
Resina que da árvore se raspa para servir de
incenso,
Algo de que se faz a rádio,
Para que ao doente no leito do hospital cantar,
Relógio, que no avião,
como o retrato de são Cristóvão voar.
E, sobretudo ser uma hóstia pequena
Mais ardente que o olhar
Que se transforma em oferenda.
(Jan Twardowski)
Queridos! Estou muito grato pela vossa presença
neste dia quando estou completando 40 anos do meu ministério sacerdotal.
Peço-vos, rezem por mim para que com o auxílio de Deus e com a força do
Espírito Santo possa continuar o meu serviço sacerdotal, sendo pão para quem
tem fome.
HOMILIA NA FESTA DA MISERICÓRDIA – 2013
PURGATÓRIO,
A OBRA DA MISERICÓRDIA.
1. Preparando-me
para lhes falar hoje, nesta festa da Misericórdia divina, encontrei um
depoimento muito importante escrito por Santa Catarina de Gênova, que viveu nos
anos de 1447 a 1510. Ela escreve assim: “O Senhor deu hoje à minha alma novas
luzes sobre o mistério do Purgatório, que me foi mostrado como um rio de águas
abundantes que jorrou da Cruz com a morte de Cristo. Vi que o Purgatório foi
criado por Cristo Salvador – mais exatamente pelo Pai n’Ele -, morto na Cruz
para resgatar ao homens, e vencedor da morte, cujo império destruiu e cujo
poder fez recuar. Antes da Redenção do gênero humano, o Céu estava fechado para
nós, em consequência do pecado original, e foi Cristo quem, pelo seu
sacrifício, morte e Ressurreição, se fez a Porta do Céu.
Até então, as almas dos justos não
podiam ter acesso ao Céu e esperavam no limbo (mansão dos mortos) que a Porta
se abrisse. Com a crucifixão do Salvador, essa porta abriu-se, a justiça divina
foi satisfeita, e a misericórdia, como que retida em Deus até esse momento,
pode jorrar em plenitude sobre o gênero humano. Pela sua Paixão e Morte, o
Salvador uniu o amor infinito e a justiça estrita. E o Purgatório foi-nos dado
por Ele como penhor e lugar do encontro dessas duas manifestações do seu amor
misericordioso.
Nesse rio da misericórdia que é,
pois, o Purgatório, as almas são invadidas pelo amor inflamado de Deus, que as
quer purificar para introduzi-las na sua intimidade eterna: o Céu. Neste
sentido, o Purgatório encontra-se de certa maneira no Coração misericordioso de
Jesus, como também se encontra, embora de outra forma, na Igreja militante e,
ainda do outra forma, no Paraiso; tudo é recapitulado no Amor”.
2. O
Catecismo da Igreja Católica esclarece sobre o purgatório:
A Igreja denomina Purgatório esta purificação
final dos eleitos, que é completamente distinta do castigo dos condenados. A
igreja formulou a doutrina da fé relativa ao Purgatório, sobretudo, no Concílio
de Florença e de Trento. Fazendo referência a certos textos da Escritura (1Cor
3,15; 1Pe 1,7; Mt 12,31; Mt 5,26;), a tradição da Igreja fala de um fogo
purificador: o que concerne a certas faltas leves, deve-se crer que existe
antes do juízo um fogo purificador. (CIC 1031)
"Os que morrem na graça e na
amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenham
garantida a sua salvação eterna, passam, após sua morte, por uma purificação, a
fim de obterem a santidade necessária para entrarem na alegria do Céu." (CIC
1030)
S. Gregório Magno (540-604), Papa e
doutor da Igreja escreveu:
"No que concerne a certas
faltas leves, deve-se crer que existe antes do juízo um fogo purificador,
segundo o que afirma Aquele que é a Verdade, dizendo que se alguém tiver
cometido uma blasfêmia contra o Espírito Santo, não lhe será perdoada nem no
presente século nem no século futuro (Mt 12,31). Desta afirmação podemos
deduzir que certas faltas podem ser perdoadas no século presente, ao passo que
outras, no século futuro." (Dial. 41,3).
Este ensinamento apoia-se também na
prática da oração pelos defuntos, da qual já a Sagrada Escritura fala:
"Eis porque ele [Judas Macabeu] mandou oferecer esse sacrifício expiatório
pelos que haviam morrido, a fim de que fossem absolvidos de seu pecado" (2Mac
12,46). Desde os primeiros tempos, a Igreja honrou a memória dos defuntos e
ofereceu sufrágios em seu favor, em especial o sacrifício eucarístico, a fim de
que, purificados, eles possam chegar à visão beatífica de Deus. A Igreja
recomenda também as esmolas, as indulgências e as obras de penitência em favor
dos defuntos. (CIC 1032)
4. Então,
conforme a nossa doutrina católica, o Purgatório é o lugar no qual se encontram
as pessoas que morreram no amor de Deus, mas não corrigiram seus erros
completamente. Precisam expiar seus pecados através do sofrimento antes de
entrarem no céu. Esses sofrimentos podem ser suavizados pelo oferecimento de
missas e preces. A doutrina foi definida pelo Concílio de Trento e baseia-se em
2 Macabeus 12,43-46 e Mateus 12,32.
5. Temos
também um depoimento muito forte da Santa Faustina, Apóstola da Misericórdia.
Ela escreveu: “Vi o Anjo da Guarda que me mandou acompanha-lo. Imediatamente
encontrei-me num lugar nevoento, cheio de fogo, e dentro deste uma grande
quantidade de almas sofredoras. Essas almas rezam com muito fervor, mas sem
resultado para si mesmas; apenas nós podemos ajuda-las. As chamas que as
queimavam não me tocavam. O meu Anjo da Guarda não se afastava de mim nem por
um momento. E perguntei a essas almas qual era o seu maior sofrimento. Responderam-me
que o maior sofrimento delas é a saudade de Deus. Vi Nossa Senhora que visitava
as almas no purgatório. As almas chamam Maria de «Estrela do Mar». Ela lhes
traz alívio. Queria conversar mais com elas, mas o meu Anjo da Guarda fez-me
sinal para sair. Saímos pela porta dessa prisão de sofrimento. Ouvi uma voz
interior que me disse: «A minha Misericórdia não deseja isso, mas a justiça
manda». Desde esse momento me encontro mais unida às almas sofredoras do
Purgatório”. (Diário n.20).
6. As
indulgências que podemos lucrar neste Ano da Fé, aqui durante a peregrinação
para a Catedral, devemos oferecer pelas Almas de Purgatório. Eu creio
profundamente que fazendo isso estamos fazendo uma grande obra da misericórdia.